sexta-feira, junho 30, 2006

Chalk on Black-board

a história de um giz que insistia em escrever sempre da mesma maneira

tempo

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quarta-feira, junho 28, 2006

na noite

Foto de Henrique Toscano

"[...]
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade de uma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer
[...]"

Al Berto in O Medo



escrevo-te

"[...]
e quando o mar se retirar
o sol e a lua virão tatuar sobro o ombro
a silhueta viva dum bicho estelar
e a memória
essa parte calcinada da vida começará a doer e a latejar
[...]"

Al Berto in O Medo

terça-feira, junho 27, 2006

a morte


"There's rosemary,
that's for remembrance.
Pray you, love, remember.
And there's pansies, that's for thoughts.
There's fennel for you, and columbines.
There's rue for you, and here's some for me.
We may call it herb of grace o' Sundays.
Oh, you must wear your rue with a difference.
There's a daisy. I would give you some violets,
but they withered all when my father died.
They say he made a good end."

William Shakespeare, Hamlet Prince of Denmark - Act IV Scene V

domingo, junho 25, 2006

utopia

... o sono . a espuma . a imagem de ti...

auto-retrato


...mas a 6ª gnossienne...porquê?

sábado, junho 24, 2006

palavras verdes a mais

Fiquei ali, imóvel, durante algum tempo. Pelo meu olhar vago corrias tu. O som da tua voz descontinuada insistia em agarrar-se à minha memória. Estavas tão longe. Caí na cama esmagada pelo teu peso. Em cima de mim, e da cama, não eras mais do que um sopro intermitente. Quente, mas em forma de cubo. Sem me conseguir mexer, fazer um único movimento, fui-me deixando ficar…ali…deitado…imóvel…até deixar de ter vontade própria. Caí na cama, esmagado pelo teu peso. E do cubo a forma fez-se… senti o desenho das tuas costas contra as palmas das minhas mãos… Fechei os olhos e percorri o teu corpo. O cheiro do café era substituído a cada segundo pelo teu. Mesmo não os vendo, agarrei os teus cabelos… agarrei-te inteira.
Tic Tic…Tic Tic…
Abro um olho, depois o outro…
Tic Tic na porta do quarto.
Chegava uma encomenda. Uma caixa pequena. A um domingo de manhã. Abri. Rosas... Chegavam rosas... Chegavam rosas suficientes para me encobrir. Chegavam, cobertas de fuligem e açúcar em pó.

sexta-feira, junho 23, 2006

placidez


o passo acidental, impaciente, desmembrado

#.7777.#


...um Universo distraidamente demolido e concertado a viver do sonho para o sonho…
(a partir de Fernando Pessoa)

quarta-feira, junho 21, 2006

poesia a ti


Viver dentro do espaço vazio…

"Vou-me embora de mim"







"[...]
O amor, a dor, a gente, toda a gente,
acaba, inevitavelmente, num dia qualquer."


Joaquim Pessoa

segunda-feira, junho 19, 2006

pequeno acto em monólogo


- Larga-me a mão, anda! Desenlaça-me os dedos!...

intimidades

silêncio

sábado, junho 17, 2006

alter-ego

génios: homens sábios, magros e rebeldes

cegueira

É bom saber que amanhã te vou ver a preto e branco.

sexta-feira, junho 16, 2006

a conta gotas

A tela esburacada deixava passar a luz. Uma gnossienne entrava pela frincha da porta – era a sexta – vinha carregada de emoções, breve mas lenta. Pus a lata cheia de lama a um canto da sala vazia. As seis paredes, outrora brancas, eram agora uma grande nuvem de pólen de flores silvestres que as abelhas e outros bichos tinham trazido na última Primavera. Passaram-se já dois Outonos depois disso. Eu tinha por costume parar sempre que uma gnossienne entrava. Era uma perturbação estranha senti-la passar, mas não eram demoradas as bonitas gnossiennes. A lama estava pronta a ser espalhada. Fazia-o todos os Invernos. Espalhava a lama pela entrada, por dentro da casa. Assim poderia saber quem entrava enquanto eu dormia pela impressão das solas de borracha deixadas no tapete. Em vésperas de feriados punha ainda mais lama para que os soldados viessem comer. Um dia, como o de hoje, frio e calmo, abriguei a mais doce das abóboras cinzentas que moravam ali perto. Contava-lhe uma história para que se acomodasse, quando num impulso o lagarto verde, entre a caneca do leite azedo e o rosto amarelo de Didiapondas, resolveu interromper. Olhou-me nos olhos e com a boca muito aberta soltou a mais bela das gnossiennes – a sétima.

Como já era tarde o Verão chegara com matizes de prata.
Didiapondas confundia-se com o sol na manhã que não era azul.
Didiapondas fazia-me companhia como o mais leal companheiro vérmico.

a conta de somar


Hoje terminei a ceia tarde e fui para a cama com fome. A tentação devorou a almofada e as pedras que depositei debaixo dela. O relógio faz um tic-tac surdo porque morreu. Não lhe prestei homenagem porque era um desprezível swatch. A hera do meu quintal cresce robusta e viçosa em consagração do meu amor. O amor faz fome e devora-me devagar. Meti-o no guarda-vestidos de cabeça para baixo para que o sangue o faça pensar. Vivo no vigésimo quinto andar de um prédio azul-turquesa. O meu guarda-vestidos também é azul-turquesa e eu atirei-o da varanda com o amor lá dentro. Estatelaram-se no chão a 200km daqui. Enchi as malas e parti. Naveguei para uma ilha toda verde no meio do mar amarelo. Construí uma casa bem no meio da ilha e pintei-a de um azul quase turquesa. Odiei. Embarquei de novo e encontrei uma rocha bem alta onde não havia espaço a não ser para mim. A rocha era incolor e o mar também. Tornei-me daltónica à força. Agora vivo quieta numa vastidão descolorida e espero por nada.
HOJE FOI A MINHA ESCOLHA.

sexta-feira, junho 02, 2006