sexta-feira, junho 16, 2006

a conta de somar


Hoje terminei a ceia tarde e fui para a cama com fome. A tentação devorou a almofada e as pedras que depositei debaixo dela. O relógio faz um tic-tac surdo porque morreu. Não lhe prestei homenagem porque era um desprezível swatch. A hera do meu quintal cresce robusta e viçosa em consagração do meu amor. O amor faz fome e devora-me devagar. Meti-o no guarda-vestidos de cabeça para baixo para que o sangue o faça pensar. Vivo no vigésimo quinto andar de um prédio azul-turquesa. O meu guarda-vestidos também é azul-turquesa e eu atirei-o da varanda com o amor lá dentro. Estatelaram-se no chão a 200km daqui. Enchi as malas e parti. Naveguei para uma ilha toda verde no meio do mar amarelo. Construí uma casa bem no meio da ilha e pintei-a de um azul quase turquesa. Odiei. Embarquei de novo e encontrei uma rocha bem alta onde não havia espaço a não ser para mim. A rocha era incolor e o mar também. Tornei-me daltónica à força. Agora vivo quieta numa vastidão descolorida e espero por nada.
HOJE FOI A MINHA ESCOLHA.

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