domingo, junho 03, 2007

21 de Maio de 2005

A cama está desamarrada no meu quarto
A gata dorme agarrada ao filho ainda transparente
Pelos buracos abertos na parede nascem gatos adultos e mortos
Ensanguentados e cobertos de pelagem multicolor
Tapo as fendas abertas por detrás do guarda-fatos
Mas eles continuam a invadir o quarto hermeticamente fechado
São aos milhares
A gata geme
Quer expelir o filho cru
A notícia acontece aos poucos
Levo horas nisto (a tirar gatos do meu quarto)
Depois a aflição
A dor fetal
As entranhas aparecem
O sangue visceral ocorre lento mas eficaz
O bicho respira
Finalmente mama, sôfrego, até adormecer.

2 comentários:

Alexandre disse...

isto evoca-me herberto hélder...

Sílvia Alves disse...

:) Alexandre, ...com toda a honestidade, é meu. Mas sim, leio, talvez até demais, Herberto, esse grande senhor. Muito obrigada pela visita!