A tela esburacada deixava passar a luz. Uma gnossienne entrava pela frincha da porta – era a sexta – vinha carregada de emoções, breve mas lenta. Pus a lata cheia de lama a um canto da sala vazia. As seis paredes, outrora brancas, eram agora uma grande nuvem de pólen de flores silvestres que as abelhas e outros bichos tinham trazido na última Primavera. Passaram-se já dois Outonos depois disso. Eu tinha por costume parar sempre que uma gnossienne entrava. Era uma perturbação estranha senti-la passar, mas não eram demoradas as bonitas gnossiennes. A lama estava pronta a ser espalhada. Fazia-o todos os Invernos. Espalhava a lama pela entrada, por dentro da casa. Assim poderia saber quem entrava enquanto eu dormia pela impressão das solas de borracha deixadas no tapete. Em vésperas de feriados punha ainda mais lama para que os soldados viessem comer. Um dia, como o de hoje, frio e calmo, abriguei a mais doce das abóboras cinzentas que moravam ali perto. Contava-lhe uma história para que se acomodasse, quando num impulso o lagarto verde, entre a caneca do leite azedo e o rosto amarelo de Didiapondas, resolveu interromper. Olhou-me nos olhos e com a boca muito aberta soltou a mais bela das gnossiennes – a sétima.
Como já era tarde o Verão chegara com matizes de prata.
Como já era tarde o Verão chegara com matizes de prata.
Didiapondas confundia-se com o sol na manhã que não era azul.
Didiapondas fazia-me companhia como o mais leal companheiro vérmico.
2 comentários:
por que são tão tristes as tuas histórias? quem perdeste que te levou ao chão e de lá passaste a ver o sol? por que em cada palavra tua há desesperança?
mas mesmo assim, parabéns!
hei de passar sempre para te ler.
obrigada, Pedro. Não sei quem és nem por que passaste no meu blog. Não são tristes...são histórias. e sim, perdi alguém que me custou o tombo... mas devagar me levanto. e o sol prefiro vê-lo a preto e branco. Até breve se passares por aqui.
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