segunda-feira, maio 29, 2006

não vejo

Agito-me, caio no chão que parece de seda
e escorro de gatas pela lisura do tecido.
Agarro-o e fico por pontas com as pontas dos dedos.

Terei de largar, eu sei.
Tarde ou cedo, é fatal!
Sinto o óleo nas mãos. Já verte… É sempre assim!

E eu que não entendo de mecânica… da mecânica das coisas!

(não vejo)

Um ponto assinala… como o ponto, o sinal
O princípio do resto
O ponto final
Para além do ponto ficam as palavras não ditas

ou as palavras mal ditas
(malditas!)
Maldigo o ponto tão próximo de mim.

(não vejo)



Que me tapem-me os olhos quando te fores
Como não quero que partas também não quero ver
Mesmo sem a anestesia que não vou ter
Eu não quero ver
Não me abras os olhos, tem piedade
Não me injectes nas pupilas a dor de te ver partir
Quero branco!
Se para mim voltares as minhas próprias garras,

vaza-me com elas os olhos
E depois vai.

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